quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Gestando performance

Eu disse pra gente tramar uma performance.
Eu entendi que ela disse que sim e ela disse que aquela de mudar de vida não, que uma performance pelo menos dava pra ela voltar pra casa e dormir no quentinho.

Maravilhas da ficção.
Te narro até tua morte e ninguém morre (só o tempo gasto na escuta).

Tive um momento inspirado hoje de tarde, mas ele se perdeu no passado, soterrado por conversas jogadas fora e esquecimento de importâncias (o que também é uma importância). Tinha qualquer coisa com a palavra
“cabimento”
e com a palavra
“identidade”

Deixando claro: estou escrevendo pra você, Temporário, ainda que cansado.

Aliás, penso tanto no cansaço que penso que cansaço poderia ser um começo.

Recapitulando:

(1) ficção,
(2) cansaço,
(3) identidade,
(4) cabimento e
(5) pelo menos dá pra eu voltar pra casa e dormir no quentinho...

Essa ordem é ficcional.

Conforto de uma ficção de cansaço.

Lá teus textos e desenhos. Quem? De repente falando em performance. Alguma coisa sobre identidade, me identifiquei. E só por isso inclui o outro nos próprios pensamentos e quer enviar cartas (como esta). Resolve-se que o que penso também te diz respeito.

A performance:
Imaginei um dia de companhia artificial. Um assunto combinado. Intenções combinadas. Então separa artificialmente e, separadamente, executa-se o combinado. Tempo indefinido.

domingo, 9 de maio de 2010

Sobre o almoço além-tédio

Na última sexta-feira (07/05/2010) fiz a performance "Almoço além-tédio" no evento Ato performático, organizado pelo SESC. A performance ocorreu no pátio do SESC da Esquina, aqui em Curitiba. A performance consistia em receber qualquer pessoa para almoçar comigo. Meu amigo Yuri, chef de cozinha, fez o almoço e a performance aconteceu. O texto abaixo conta mais.

Uma performance sempre me lembra o problema da justificativa. Uma performance sempre me parece um ato injustificado. A idéia de fazer uma performance costuma surgir espontaneamente num momento em que os pensamentos estão em paz, sem troca mútua de críticas. Mas basta algum tempo debruçado sobre a idéia, imaginando a sua execução material e as dúvidas começam a inundar tudo, as críticas se multiplicam e qualquer justificativa anterior parece fraca, sem fundamento, sem razão. Na semana em que o almoço além-tédio aconteceria eu comecei a acordar inseguro, a descrença tomou conta dos meus pensamentos, todos os preparativos tiveram que ser feitos apesar dos meus pensamentos, ainda bem que eu tinha alguns amigos apoiando a idéia. Na madruga da sexta-feira fui até o pátio do SESC onde aconteceria a performance: eu estava nervoso. Não tinha mais volta (claro que tinha), o processo já estava em andamento, fazia um mês que a idéia tinha surgido. Ao meio-dia lá estava eu sem clareza quanto a minha postura durante a performance, mas eu estava ali e o almoço também. Eu estava dentro da situação e meu cérebro – pobre coitado – tentava analisar a situação: algo como querer fazer um mapa do relevo do mar. Os convidados foram chegando, eu mostrava o cardápio:

ALMOÇO

Seja bem-vindo ao almoço além-tédio:

Sirva-se
Coma
Dê de comer
Continue
À vontade.

Cardápio

Arroz branco
Frango ao molho de shoyo, gengibre e gergelim
Alcatra ao molho indiano de tomate
Samossa (pastel vegetariano indiano)

Água

Paçoca

Comemos, demos de comer. Tive pelo menos uma sensação nova: foi quando peguei uma colherada de arroz com alcatra ao molho indiano de tomate e, no entanto, comi frango ao molho de shoyo, gengibre e gergelim. É que eu e um dos convidados comemos da colher do outro. Interpretações? Interpretações? Filosofávamos... Falei dos personagens do cotidiano (personagens que podem facilmente ser largados no piloto automático), percebi expectativa, cansei muito. Recebi cerca de dez pessoas muito dispostas ao almoço além-tédio, uma delas até se propôs a lavar a colher e o prato que havia usado. Fiquei pensando se alguma das pessoas que almoçaram ali era alguém que não tinha ido para ver performance, acredito que não.
A comida estava ótima, apesar de eu ter comido sem fome. As companhias foram ótimas, todas muito agradáveis. Ainda fiquei me perguntando pelas justificativas. Não encontrei. Desejo, eu diria.

Uma amiga me perguntou depois:
- E aí, como foi a performance?
Liguei meu personagem no piloto automático e respondi:
- Ah, uma performance sempre me parece um ato injustificado.
Ela respondeu:
- Ah, quem precisa ser tão racional, né?

Desejo, eu diria.

terça-feira, 9 de março de 2010

Uma coisinha a mais

Oi,

sexta-feira (12/03) a partir das 20h. Aqui em casa: Uma coisinha a mais. Mande um e-mail para gdoriarachwal@gmail.com e receba já o mapa.

As possibilidades são tantas que dá até preguiça de escrever tudo, mas dá pra, por exemplo, fazer uma performance, ler um texto, recitar um poema, encenar algo, tocar uma viola, cozinhar, trazer uns gols do Zico pra gente assistir, enfim... é como improvisar. Chega mais.

É o Uma coisinha a mais que começa nessa sexta-feira.

Abraço e até lá.

*Agredeço o Hique pelo nome do evento.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Relato do dia do bombom

A caminho da esquina combinada, encontro um amigo, convido-o para ir ao bar que há lá naquela esquina. Chegando lá estou com o caixa a de bombom. "Que porra é essa?", pergunta o amigo. Respondo evasivamente, "é um acontecimento além-tédio"... A caixa fica ali aos nossos pés, quase ninguém vê, há umas vinte e cinco pessoas em pé ou sentadas no meio-fio. Bebe-se socialmente, afinal o amigo não foi até ali perder tempo com uma experiência sem sentido de comer uma caixa de bombons. Conversa vai conversa vem um maltrapilho bêbado para e pede permissão para pegar um bombom. “Sirva-se”, é minha resposta. Ele pega um e então já pede para pegar outro. “Fique à vontade”, respondo. Ele explica: “é um pra mim e outro pra minha mulher”. Digo, então, que se ele quiser ele pode ainda pegar mais bombons, quero demonstrar que a caixa está ali, disponível. Nessa hora ele se sente uma expectativa negativa de mim (isso é o que eu sinto), diz que não, que não precisa de mais bombons. Eu e o amigo (o Krika) tentamos uma interpretação do fato: o maltrapilho foi o único que se dispôs a uma interação social para conseguir um bombom... o próximo indivíduo que interage é um cachorro, um poodle, o bicho fareja os bombons, mas logo é puxado pela dona que segue impassível quanto aos bombons. Um cachorro e um maltrapilho. Segue-se longo tempo sem mais interações, pelo menos aparentemente, já que nunca se sabe se não há alguém por ali ávido por interação efetiva com os bombons. Depois disso aparecem, separadamente, três grupos de amigos que costumam frequentar o bar. Contamos, eu e o Krika, sobre como vai a experiência até agora (o maltrapilho é o grande assunto, ele saiu citando Raul Seixas e está ali pelas redondezas). Os amigos comem bombom, agradecem, sorriem, conversa-se sobre trivialidades, fazem-se gracejos. O maltrapilho volta a intervir, quer dinheiro, os gracejos ficam constrangidos, “não rola”, é a resposta para o maltrapilho, fala-se qualquer coisa sobre culpa. Os gracejos voltam, vai-e-vem de amigos. Tchau. Volto para casa comendo os bombons rejeitados (e como são bons, não entendo por que foram rejeitados...). No outro dia o Krika comenta: “aquilo não foi um acontecimento além-tédio, e sim um acontecimento aquém-tédio”. Reflito.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Comer bombom

A capacidade de não seguir um roteiro pré-estabelecido é enorme. Canso, desvio, traio e obedeço à risca. É começo de ano, há um esforço de colocar as coisas nos eixos. Procura-se o leme. Barquinho solto, bebadinho, na bacia. Experiências controladas de desafio ao hábito.

Tarefa: comer bombom (uma caixa).
Coordenadas espaciais: esquina da Rua Duque de Caxias com a Paula Gomes (há um bar ali).
Coordenadas temporais: dia 23/02/2010 às 20:30.

Todos convidados. Até lá.