domingo, 9 de maio de 2010

Sobre o almoço além-tédio

Na última sexta-feira (07/05/2010) fiz a performance "Almoço além-tédio" no evento Ato performático, organizado pelo SESC. A performance ocorreu no pátio do SESC da Esquina, aqui em Curitiba. A performance consistia em receber qualquer pessoa para almoçar comigo. Meu amigo Yuri, chef de cozinha, fez o almoço e a performance aconteceu. O texto abaixo conta mais.

Uma performance sempre me lembra o problema da justificativa. Uma performance sempre me parece um ato injustificado. A idéia de fazer uma performance costuma surgir espontaneamente num momento em que os pensamentos estão em paz, sem troca mútua de críticas. Mas basta algum tempo debruçado sobre a idéia, imaginando a sua execução material e as dúvidas começam a inundar tudo, as críticas se multiplicam e qualquer justificativa anterior parece fraca, sem fundamento, sem razão. Na semana em que o almoço além-tédio aconteceria eu comecei a acordar inseguro, a descrença tomou conta dos meus pensamentos, todos os preparativos tiveram que ser feitos apesar dos meus pensamentos, ainda bem que eu tinha alguns amigos apoiando a idéia. Na madruga da sexta-feira fui até o pátio do SESC onde aconteceria a performance: eu estava nervoso. Não tinha mais volta (claro que tinha), o processo já estava em andamento, fazia um mês que a idéia tinha surgido. Ao meio-dia lá estava eu sem clareza quanto a minha postura durante a performance, mas eu estava ali e o almoço também. Eu estava dentro da situação e meu cérebro – pobre coitado – tentava analisar a situação: algo como querer fazer um mapa do relevo do mar. Os convidados foram chegando, eu mostrava o cardápio:

ALMOÇO

Seja bem-vindo ao almoço além-tédio:

Sirva-se
Coma
Dê de comer
Continue
À vontade.

Cardápio

Arroz branco
Frango ao molho de shoyo, gengibre e gergelim
Alcatra ao molho indiano de tomate
Samossa (pastel vegetariano indiano)

Água

Paçoca

Comemos, demos de comer. Tive pelo menos uma sensação nova: foi quando peguei uma colherada de arroz com alcatra ao molho indiano de tomate e, no entanto, comi frango ao molho de shoyo, gengibre e gergelim. É que eu e um dos convidados comemos da colher do outro. Interpretações? Interpretações? Filosofávamos... Falei dos personagens do cotidiano (personagens que podem facilmente ser largados no piloto automático), percebi expectativa, cansei muito. Recebi cerca de dez pessoas muito dispostas ao almoço além-tédio, uma delas até se propôs a lavar a colher e o prato que havia usado. Fiquei pensando se alguma das pessoas que almoçaram ali era alguém que não tinha ido para ver performance, acredito que não.
A comida estava ótima, apesar de eu ter comido sem fome. As companhias foram ótimas, todas muito agradáveis. Ainda fiquei me perguntando pelas justificativas. Não encontrei. Desejo, eu diria.

Uma amiga me perguntou depois:
- E aí, como foi a performance?
Liguei meu personagem no piloto automático e respondi:
- Ah, uma performance sempre me parece um ato injustificado.
Ela respondeu:
- Ah, quem precisa ser tão racional, né?

Desejo, eu diria.

2 comentários:

  1. se ficou no desejo, ficou naquilo que põe em movimento sem pensar na direção. Então, valeu!

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  2. Tinha uma samosa redentora nesse almoço. Medo de dar uma garfada nela e comer frango O_O

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