domingo, 28 de fevereiro de 2010

Relato do dia do bombom

A caminho da esquina combinada, encontro um amigo, convido-o para ir ao bar que há lá naquela esquina. Chegando lá estou com o caixa a de bombom. "Que porra é essa?", pergunta o amigo. Respondo evasivamente, "é um acontecimento além-tédio"... A caixa fica ali aos nossos pés, quase ninguém vê, há umas vinte e cinco pessoas em pé ou sentadas no meio-fio. Bebe-se socialmente, afinal o amigo não foi até ali perder tempo com uma experiência sem sentido de comer uma caixa de bombons. Conversa vai conversa vem um maltrapilho bêbado para e pede permissão para pegar um bombom. “Sirva-se”, é minha resposta. Ele pega um e então já pede para pegar outro. “Fique à vontade”, respondo. Ele explica: “é um pra mim e outro pra minha mulher”. Digo, então, que se ele quiser ele pode ainda pegar mais bombons, quero demonstrar que a caixa está ali, disponível. Nessa hora ele se sente uma expectativa negativa de mim (isso é o que eu sinto), diz que não, que não precisa de mais bombons. Eu e o amigo (o Krika) tentamos uma interpretação do fato: o maltrapilho foi o único que se dispôs a uma interação social para conseguir um bombom... o próximo indivíduo que interage é um cachorro, um poodle, o bicho fareja os bombons, mas logo é puxado pela dona que segue impassível quanto aos bombons. Um cachorro e um maltrapilho. Segue-se longo tempo sem mais interações, pelo menos aparentemente, já que nunca se sabe se não há alguém por ali ávido por interação efetiva com os bombons. Depois disso aparecem, separadamente, três grupos de amigos que costumam frequentar o bar. Contamos, eu e o Krika, sobre como vai a experiência até agora (o maltrapilho é o grande assunto, ele saiu citando Raul Seixas e está ali pelas redondezas). Os amigos comem bombom, agradecem, sorriem, conversa-se sobre trivialidades, fazem-se gracejos. O maltrapilho volta a intervir, quer dinheiro, os gracejos ficam constrangidos, “não rola”, é a resposta para o maltrapilho, fala-se qualquer coisa sobre culpa. Os gracejos voltam, vai-e-vem de amigos. Tchau. Volto para casa comendo os bombons rejeitados (e como são bons, não entendo por que foram rejeitados...). No outro dia o Krika comenta: “aquilo não foi um acontecimento além-tédio, e sim um acontecimento aquém-tédio”. Reflito.

2 comentários:

  1. http://www.youtube.com/watch?v=68MV6qJ9izU

    ilustrando seu post

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  2. temo que isso seria diferente se não fosse em curitiba...

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